sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

TODO MENINO, JESUS

Por Dani e Joe

OS DIAS, semanas e meses passavam mais rápido desde que o menino cresceu. Parecia inverno ainda ontem e mais um fim de ano já estava aí, trazendo expectativas do que vem pela frente. É verdade que nem tudo tinha cara de novidade. Algumas expectativas eram bem conhecidas. O dinheiro vai dar? O trabalho vai pintar? O isso e aquilo de sempre.

Mas novas expectativas surgiam especialmente pelo menino. Crescido, já vinham a ele os primeiros sentimentos de ser homem. Nos olhos ainda se via o brilho da curiosidade infantil, como quem recém chegou e de tudo faz perguntar. E a esse brilho misturava-se o lampejo de sonhos novos. O menino já dizia saber o que desejava “ser quando crescer” – essa fórmula mágica que a gente leva para o resto da vida, porque para “ser” e “crescer” não tem quem consiga um dia ficar pronto.

Ela pensava nisso tudo cantarolando pela casa.  Arrumava tudo para mais um Natal em família. Era uma família pequena, é verdade. Tal como a “sagrada família”: ela, o marido e o menino. Ela sorriu a esse pensamento, imaginando sua família e sua casinha como um aconchegante presépio...

– Ave-Maria! – benzeu-se, em seguida, como se pensasse algo proibido. Comparar sua casa com coisa santa lhe pareceu um sacrilégio. Mas, no fundo, ria-se de si mesma, com o mesmo sorriso de satisfação pelo “presépio” que ela e seu marido construíram nesses anos de dedicação.

Era uma suficiente parcela de felicidade que sentiam, por esses dias, quando a pressa cotidiana dava uma trégua, e os ares natalinos convidavam a cantarolar pela casa. Porque, bem ou mal, havia motivos para ter o coração grato. Afinal, mais um ano de “dever cumprido” e mais um novo ano para exercitar a esperança. Que era uma vida difícil, isso era. Mas jamais desesperada.

Logo mais à noite, já deitados prontos para dormir, ela dividiu com o marido o pensamento que lhe ocorrera sobre a semelhança deles com a sagrada família.

– Nossa casa, um presépio? – Ele reagiu achando a ideia engraçada.
– É. Achei tão bonito. Mas não é certo, né?

Para ele, porém, não havia problema na comparação. Já quase dormindo, disse:

– Tem nada, não! Mas para garantir, amanhã vou atrás do jegue, da vaca e da cabra!

Apesar da ousadia, a graça do marido a aliviou. E ela adormeceu com o sentimento bom que aqueles pensamentos lhe davam.

A manhã seguinte era véspera de Natal. Eles bebiam silenciosos a primeira xícara de café, quando o menino se achegou à mesa embrulhado em sono. O pai, vendo-o, sorriu e voltou-se para ela:

– Vai precisar outra manjedoura... Olha o tamanho do nosso Jesuisinho.

À família querida: (Nacimento/Santana/Ferreira) Batista / Aracaju, Natal de 2016

segunda-feira, 24 de março de 2014

(...)

Pra cada ida, há uma outra.
Do sentido pronto e reto (quero apenas)
uma atadura à vida sem nó.
Livres e loucas!
abelhas de ideias soltas
lambuzam-me afetos:
o doce mel de não estar só.