segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Drummondiando

Na série "58a Feira do Livro de Porto Alegre", encerrada há poucos dias, sigo com anotações dos livros adquiridos este ano, a Antologia poética de Carlos Drummond de Andrade (Cia das Letras, 2012).

Este ainda está sendo lido, porque poesia, a mim, pede uma leitura mais relapsa e distraída. Em todo caso, me chamou atenção que esta antologia é selecionada pelo próprio Drummond que, tal como explica na introdução, procura reconhecer "temas recorrentes" que perpassam suas obras. Chega, então, a nove temas que misturam e combinam a cronologia de sua obra a partir do que o poeta reconhece (e confessa) entre seus motivos de escrita.

Eu nunca havia lido sistematicamente Drummond. Meu imaginário acerca dele se resumia a um tal José, uma pedra no caminho, e uma rosa no asfalto. A idéia da aproximação ao poeta da Rosa do Povo foi dada por um colega de oficina literária, a quem devo a gratidão pelo impulso... (tudo no Visa, ai, ai)

O que me impressiona - isto ainda nas primeiras páginas - é a leveza e o movimento do texto. Sua liberdade poética traduz-se com responsabilidade. O verso livre torna-se, com ele, um estilo a que se chega, não do qual se parte, definitivamente. Essa é uma lição importante para mim, e que me reforça a disposição ao trabalho minucioso de esculpir cada momento, combinação e respiro dos versos.

Antes da folha de rosto, esta edição de Antologia poética traz fotos de Drummond. A última delas é de 1981, onde ele está com a esposa e o neto. Há um sorriso no rosto, e o olhar preso ao chão. Depois de ler a primeira seção de poesias reunidas sob o título Um Eu Todo Retorcido, eu voltei a essa foto e anotei ao lado:

"Como Drummond
numa antiga foto de família,
de sorriso poético a mirar
o chão das coisas".

Estou lendo sua poesia para buscar referências para minha própria escrita. Mas se pudesse crescer, e quando crescesse, queria ser como ele - ou melhor, como sua poesia.

PS: o que ele estaria olhando naquela foto? Uma rosa brotando no asfalto?


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