terça-feira, 13 de novembro de 2012

Falando em Drummond, olha isso...

Na série que iniciei sobre a 58a Feira do Livro de Porto Alegre (e aproveitei para retomar atividades neste blog!), comentei a Antologia poética de Carlos Drummond de Andrade, com a qual estou me deliciando e rompendo uma cruel e displicente ignorância acerca da obra desse grande nome da literatura brasileira. Bom... gostei muito do poema Aspiração, publicado em Claro enigma, de 1951, que está entre os últimos recolhidos por Drummond sob o título Um Eu Todo Retorcido, com o qual ele abre sua antologia. Para saborear ainda mais o texto, o transcrevi abaixo, e que seja semente levada pelo  vento...

* * *

ASPIRAÇÃO

Já não queria a maternal adoração
que afinal nos exaure, e resplandece em pânico,
tampouco o sentimento de um achado precioso
como o de Catarina Kippengerg aos pés de Rilke.

E não queria o amor, sob disfarces tontos
da mesma ninfa desolada do seu ermo
e a constante procura de sede e não de linfa,
e não queria também a simples rosa do sexo,

abscôndita, sem nexo, nas hospedarias do vento,
como ainda não quero a amizade geométrica
de almas que se elegeram numa seara orgulhosa,
imbricamento, talvez? de carências melancólicas.

Aspiro antes à fiel indiferença
mas pausada bastante para sustentar a vida
e, na sua indiscriminação de crueldade e diamante,
capaz de sugerir o fim sem a injustiça dos prêmios.

- C.D.A, Claro enigma (1951).

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